Imagem capa - Sobre ser um fotógrafo fora da curva por Jac Oliveira
Fotografia

Sobre ser um fotógrafo fora da curva

Hoje quero falar sobre um assunto que entendo ser uma espécie de aflição para os fotógrafos. Tenho assistido lives, vídeos e ouvido podcasts nas últimas semanas e a discussão sempre acaba trazendo à tona o fato de que os fotógrafos estão muito iguais. Principalmente quando se fala em casamento. E não é só no sentido de resultado fotográfico, mas de comportamento e até nas roupas e modo de vida. Também vejo muito o pessoal comentar sobre o fotógrafo que fotografa para ganhar prêmios... Então, o que, afinal, é ser um fotógrafo fora da curva?


Penso que é papel desses caras - os influenciadores da fotografia - observarem esse tipo de coisa e talvez seja normal eles se incomodarem com algumas dessas coisas. Eu tenho minhas influências. Há trabalhos que gosto muito, outros que nem tanto. Mas, não mudo meu estilo de fotografar (tanto na hora do clique quanto em tratamento de imagem) por causa desse ou daquele fotógrafo ou fotógrafa, mesmo que eu os admire muito. O que me faz mudar, geralmente, é a minha necessidade de evoluir. É quando algo já não me dá tesão quando vejo minhas fotos... isso é complexo e requer muita autocrítica, mas é assim. Porém, há aquele tipo de pessoa 'esponja'. Em todas as áreas profissionais e no âmbito pessoal há pessoas assim. São aquelas que absorvem e tomam para si o jeito das outras, o que acaba prejudicando que elas tenham o seu próprio jeito. Isso é totalmente diferente de absorver boas influências em equilíbrio com aquilo que você é e acredita. Assuma o que você acredita. Vejo muitos fotógrafos dizendo "mas o cliente quer... mas o cliente pede" e enquanto isso, seguem fazendo ensaios e fotografando de um jeito que não curtem.


Uma possível cliente, ao me pedir orçamento, pode até insistir para que eu forneça figurinos (tipo saia de tule), mas eu não vou oferecer. Eu vou dizer que esse não é meu estilo. Felizmente, isso é notável no meu portfólio. Portanto, é pouco comum que esse tipo de cliente me procure. Para deixar muito claro: não tenho nada contra esse estilo. Se é o que você gosta de fazer, se é o sonho do cliente, beleza! Apenas não é o que eu gosto. Também não me nego a incluir no ensaio um acessório que o cliente levou. Vou sempre fazer de tudo para realizar os desejos dos meus clientes. Mas, não trabalho fornecendo roupas e acessórios padronizados. Eu quero fotografar pessoas reais. Aliás, ouve esse podcast com o casal do Crazy Little Things que tem tudo a ver com o que estou falando.


Voltando ao assunto


E aí, voltando ao assunto tema desse texto... vejo que esse fenômeno das pessoas esponjas na fotografia acontece muito e com muitos iniciantes ou até mesmo com mais experientes em momentos de dúvidas. Aquelas dúvidas existenciais/profissionais que todo mundo têm. E aí vejo que alguns profissionais se incomodam muito com isso também. Com o nível de influência que alguns fotógrafos conseguem ter sobre os demais. Mas, isso faz tanta diferença? Sinceramente, pra mim não faz. Eu acho é graça. Claro que já tive minhas dúvidas. Já fiquei pensando coisas do tipo:


- Será que se eu pintar o cabelo de rosa serei uma fotógrafa mais descolada?

- De repente eu tenho que ser mais engraçada na internet pra atrair gente mais aberta ao novo...

- Acho que tenho que falar e escrever tudo no diminutivo e só postar coisas sobre maternidade para que as mães se identifiquem comigo...

- Será que preciso arrumar dois assistentes para fotografar comigo nos eventos pq fulano faz assim?

- Será que devo começar a usar flash fora da câmera nos ensaios porque essas são as fotos que fazem mais sucesso?




Foto: por algum colega do curso que não colocou seu nome nos metadados :P


Jac, para!


Já tive essas dúvidas sim. Somos diariamente bombardeados por referências e regras inventadas muitas vezes por quem quer vender workshop e já se esqueceu, há tempos, do prazer de fotografar. Mas, sem entrar nesse mérito, a real é que não me interessa se todo mundo está fazendo dessa ou daquela forma. Se todo mundo está se vestindo desse ou daquele jeito, usando esse ou aquele equipamento. Eu vou continuar fazendo o que eu acredito. Sempre estudando, sempre me atualizando, sempre sabendo o que está acontecendo. Sem alienação, please. Mas, sempre fiel ao que eu acredito. Vou aos congressos, palestras e workshops, ouço tudo, penso, penso e penso de novo. E tiro dali o que me serve, o que me acrescenta. Sem precisar descartar o meu modo de fazer as coisas. Não é porque o cara ganhou 10 prêmios com uma foto borrada que eu tenho que passar a fazer a mesma coisa. Né? Do contrário, nunca achamos nossa identidade.


Vejo que 50% dos fotógrafos passam mais tempo postando suas fotos e mostrando suas fotos para os colegas, em busca de elogio ou inveja, ao invés de estarem se relacionando com clientes, produzindo conteúdo, pensando em divulgação e em produção efetiva. Uns outros 40%, além de postarem, passam grande parte do tempo opinando sobre os outros e dizendo como tem de ser feito. Mas, aí você vai ver as fotos do cara... entenderam né? E aí ainda tem uma parte deles, que se mistura nesses percentuais anteriores, que só quer vender curso e workshop. E já nem fotografa tanto. Nada contra cursos, adoro fazer. Faria muitos se pudesse. Mas, gosto de pagar para aprender com os caras e as minas que estão na rua fotografando, sabe? Aqueles que eu vejo a produção diária. Dá pra perceber essa diferença. Dá muito.


Participo de alguns grupos no Facebook onde NUNCA postei uma foto sequer. Porque, sinceramente, não é fundamental para mim que fotógrafos vejam as minhas fotos. Não é fundamental para mim que fotógrafos gostem do que eu faço. Embora seja uma honra poder inspirar alguém, não é disso que eu vivo. Não é para isso que fotografo. Se isso for uma consequência, beleza. Eu quero é que os potenciais clientes me vejam! Eu quero é que eles se identifiquem com minhas imagens, com o jeito que fotografo e tudo mais. Eu quero é que meus atuais clientes se amem e se adorem quando posto uma foto deles. Essa é a minha humilde opinião. E isso, para mim, é que é ser um fotógrafo fora da curva. É ousar ser você mesmo.


Bom trabalho a todos! :-)

Foto da capa: Sérgio Nogueira